Zero Acidentes: O paradigma e o binóculo

JotaPedroCorreaLegendado

Quando definiu como sua nova visão de segurança o desafio de zerar os acidentes com seus produtos, o Grupo Volvo demonstra estar definitivamente predestinada a criar e enfrentar desafios de grande porte. A lista de contribuições à segurança veicular ao longo de sua história é expressiva.

Ao lançar o Zero Acidentes, contudo, parece ter alcançado seu ponto máximo por uma razão simples: uma vez vendido o produto, ele passa a ser propriedade do cliente que, consequentemente irá a operá-lo segundo seus critérios. Assim, como preconizar zero acidentes com seus produtos se eles não estão mais em suas mãos e sob seu controle?

A Volvo está convicta de que o nível de qualidade e segurança de seus produtos será capaz de contribuir consideravelmente com o cliente para a redução de acidentes graças aos componentes de segurança ativa e passiva instalados. O cliente que opta por priorizar a segurança, com um produto destes já tem mais de meio caminho andado. O restante dependerá de como atuará diante dos demais fatores de risco que, igualmente devem merecer atenção.

O mais importante destes fatores será o condutor que deve estar devidamente qualificado para a função a ponto de identificar dificuldades de operações em certas circunstâncias e ser capaz de evitar maiores riscos de acidentes. Para que isto ocorra é importante que a empresa disponibilize informações em quantidade e qualidade suficientes para que ele, na cabine, tome as decisões necessárias para realizar suas jornadas livres de acidentes.

O diferencial Volvo está na orientação de que, percebendo que a operação do cliente ocorra em situações de risco, deve intervir ajudando o operador a remover o perigo. Para isto deve se valer da longa experiência Volvo para lidar com a acidentalidade e usar este conhecimento para traçar, com o cliente, uma forma de trabalho mais segura e, assim, mais sustentável. Este papel pode ser desempenhado por um representante da fábrica ou, o que é mais possível, de um dos seus distribuidores.

Por que a Volvo tinha de propor um sonho de zero acidentes com seus produtos se até hoje ninguém no setor de transporte comercial chegou perto disso? Em minha opinião, aí está a marca do líder, que caracteriza aqueles que querem deixar seus rastros de benefícios não apenas para si, mas principalmente para seus seguidores e clientes.

A credibilidade Volvo já levou grande número de clientes em todo o mundo a adotar a segurança como prioridade e com isto obtendo excelentes resultados operacionais, salvando vidas com rentabilidade. O passo mais ousado, agora é procurar meios e ações que ajudem todos os clientes a zerar acidentes com produtos do Grupo Volvo.

Entende-se que haja certa incredulidade de alguns transportadores brasileiros diante da proposta Volvo. Afinal, somos um país que não tem cultura de segurança, que não a tem como valor e que, por isto mesmo, tenderia a tornar este tema algo supérfluo demais.

Minha posição em relação à segurança é que este é mais um paradigma do transporte brasileiro do qual mostra ter dificuldades de se livrar. Contudo, é bom lembrar que já fomos capazes de superar outros e, assim, podemos superar mais este. Vejamos:

Quando se fala de segurança, quem seria capaz de imaginar que, na virada do século, nossa sociedade iria usar cinto de segurança no nível que usamos hoje? Bastou uma ação forte dos meios de comunicação em cima de um tópico importante do Código de Trânsito Brasileiro de 1998 para que o cidadão passasse a adotá-lo ? muitos por medo das multas mas muitos também porque se deram conta dos seus benefícios.

Assim, estou convencido de que isto também ocorrerá com o zero acidentes. No início, parece ser algo fora do alcance das empresas e dos motoristas mas na sequência se verá que não é um bicho de sete cabeças e que, sim, é perfeitamente factível, mesmo que isto possa demorar algum tempo.

A discussão que aqui está sendo proposta pode ser comparada com o uso do binóculo: quando você tenta focar, no começo tudo parece um pouco confuso, com poucos detalhes, com mais perguntas do que respostas mas aos poucos as coisas vão se delineando melhor, as respostas vão surgindo para iluminar o caminho e, finalmente, veremos que se trata de um objetivo alcançável.

Seja como for, o importante aqui é ignorar as dificuldades iniciais, os pontos obscuros e tocar em frente na busca do zero acidentes. É como diria o artista francês Jean Cocteau: ?Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez?