Renovação de frota na Europa: estímulo aos novos

Assim como os EUA, a Europa não possui uma legislação que regulamente a renovação da frota de caminhões. Mas a inspeção veicular é pra valer.

Sérgio Gomes(*)

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O mercado europeu de caminhões novos absorve entre 250 mil e 350 mil unidades ao ano, ao mesmo tempo em que o de usados movimenta aproximadamente 500 mil unidades anuais. Assim como acontece em outros lugares, o caminhão tem uma vida útil de aproximadamente dez anos, sendo que passa os primeiros quatro anos no primeiro dono, outros três no segundo e outros três anos em um terceiro dono que pode ser ou não ser transportador europeu.

Até recentemente uma parcela expressiva dos veículos usados europeus eram destinados a outros mercados de exportação, principalmente África e Leste Europeu. Mas isso vem mudando nos últimos anos, como veremos adiante.

O mecanismo adotado lá é de estímulo ao uso de veículos mais eficientes sob o ponto de vista ambiental e de segurança no trânsito. Veículos que atendem as normas de emissões Euro ?X? em vigor são beneficiados com menores taxas durante sua operação, o que os torna economicamente mais interessantes para grandes frotistas e transportadores que adquirem apenas veículos novos, renovando-os a cada três anos. Isso é possível graças à inspeção anual obrigatória, em que a performance ambiental e de segurança dos veículos é avaliada.

Lá existe a figura do ?trader?, que negocia veículos usados, comprando-os dos primeiros e segundos donos para revende-los tanto no mercado local como ? principalmente ? para exportação.

Contudo, há mudanças em curso nos países importadores desses veículos, que tendem a reduzir gradativamente os volumes vendidos para eles, principalmente dos veículos mais antigos. Alguns adotam medidas de incentivo à produção e mão-de-obra locais e de proteção ao meio ambiente, outros também reduzem a idade máxima dos veículos importados, havendo ainda aqueles que começam a enfrentar dificuldades por não ter combustível adequado a veículos com tecnologia para os níveis de emissões mais recentes. Isso tudo deverá estimular o crescimento dos sistemas de desmanche e reciclagem dentro da Europa.

Por suas características peculiares, não há como comparar o mercado europeu com o americano ou com o brasileiro, mas vale apontar algumas diferenças básicas:

– Na Europa boa parte dos usados são exportados.

– Na Europa existe inspeção anual de veículos, que contribui para aumentar a segurança e ajuda a controlar níveis de emissões.

– As exigências de segurança passiva são mais rigorosas na Europa.

Outra característica do mercado europeu é a maior participação das montadoras como agente de financiamento ? com bancos próprios ? para aquisição da frota, não apenas para o primeiro dono como também para o segundo.

O interessante é notar que, assim como nos Estados Unidos, não há uma legislação definindo a política de renovação de frota, e sim mecanismos práticos como os mencionados acima, de benefícios e/ou inspeção.

No próximo artigo vamos procurar identificar as boas práticas dos mercados americanos e europeu, ou outros, que eventualmente poderiam ser aplicadas ou servir de inspiração para o Brasil.

* Sérgio Gomes, ex-diretor de estratégia do Grupo Volvo na América Latina, é especialista em Estratégia e Negócios e sócio diretor da Sérgio Gomes Consulting