Ontem, quarta-feira (18), foi aberta no Centro Internacional de Convenções em Brasília a Segunda Conferência Global de Alto Nível sobre segurança no trânsito com a presença de mais de 100 delegações estrangeiras. Cerca de 1500 congressistas participam do evento que termina hoje a tarde com a divulgação da Carta de Brasília.
Dezenas de ministros de estados, grandes nomes da segurança no trânsito do mundo tiveram intensa participação nas dezenas de sessões que concorriam entre si durante todo o dia.
Para a comunidade brasileira ligada ao trânsito era como um final de copa do mundo pois, afinal, nunca se havia visto um evento destas dimensões no País, principalmente com o número de estrelas presentes como aconteceu.
Se de um lado havia um certo ar de excitação por participar de um evento tão grande, de outro certamente reinava uma expectativa não menor para ver que tipo de discurso teriam as autoridades brasileiras em relação ao tema já que, apesar de signatário da Década Mundial, o Brasil muito pouco fez, notadamente pelo lado do Governo.
No fim, aconteceu o que muitos previam: Tanto pelo discurso da Presidente Dilma Roussef, na abertura como pelas intervenções dos Ministros Marcelo Castro, (saúde), Gilberto Kassab (Cidades) e José Eduardo do Cardozo (Justiça), “o Brasil está cumprindo a sua parte”, apesar de todos reconhecerem que o número de mortos é insuportável e precisa baixar.
Foram apresentadas ações de alguns ministérios como sendo efetivas sem que indicadores de resultados fossem apresentados. Como se previa, a Lei Seca foi destacada como um exemplo para países.
No painel de alto nível em que ministros abordariam passos para acelerar o progresso e atingir as metas da Década de Ações, Gilberto Kassab limitou-se a coordenar as intervenções dos colegas dos demais países e, assim, esquivou-se de anunciar os planos do Governo Brasileiro para os próximos cinco anos. Como a Presidente Dilma não fez menção ao que fará o Brasil até 2020, fica entendido que continuaremos vendo o que já estávamos observando: uma ausência enorme do Governo de ações concretas para baixar as fatalidades e feridos graves no trânsito.
Esta sensação de desalento, eu tive oportunidade de perceber com bastante gente com que tive a oportunidade de conversar. Brasileiros mostravam desapontamento enquanto estrangeiros se mostravam incrédulos diante dos números de perdas no nosso trânsito.
Bancos multilaterais como Banco Mundial, BID participam do evento com grandes equipes que vieram de Washington para desenvolver negociações com interessados em mostrar projetos nas áreas transporte e trânsito. A impressão que passavam era, de maneira geral, que o Brasil tem dificuldades na formulação de propostas de projetos e, assim, acaba deixando de conseguir bons financiamentos para estradas ou recuperação das que estão em mau estado de conservação.
Hoje, o último dia da Conferência, deve ser divulgada a Carta de Brasília mas não se deve esperar grandes novidades, pelo menos pelo lado do Brasil. Não teremos ministros brasileiros ligados a área participante de qualquer sessão, de onde concluo que nada mais haverá de ser dito de importante pelo nosso lado.
Sobre a conferência como um todo os organizadores do evento – OMS e ONU – podem se dar por satisfeitos por poder constatar o interesse de 120 países, embora a maior parte deles esteja em débito em relação dos objetivos de baixar 50% das mortes no trânsito. Pelo lado brasileiro veremos se haverá alguma cobrança mais séria e contundente por parte da sociedade, principalmente dos meios de comunicaçao. Afinal, como todos sabemos, quando há pressão, o Governo reage.
J. Pedro Correa