Os porta-copos são aliados dos motoristas para um hábito inocente de se hidratar enquanto dirige. Mas tudo que desvia a atenção do trânsito pode trazer prejuízos
por DANIELA SARAGIOTTO
Que álcool e direção não combinam todo mundo sabe. Agora, quando o assunto é o consumo de sucos, refrigerantes ou mesmo água dentro do carro há um senso comum de que se trata de um hábito inocente, mesmo se praticado pelo motorista. Mas não é bem assim; tudo que desvia a atenção do trânsito pode causar acidentes e trazer prejuízo.
Uma noite, saindo de um restaurante com amigas, ela conta que colocou a bebida que consumia no porta-copos. “Precisei ligar meu GPS porque não sabia ir embora da onde estava e, sem perceber, mergulhei o celular no copo cheio. A música parou e o GPS também, só aí vi o que eu tinha feito”, lembra. O prejuízo foi grande: Ana Elisa perdeu o iPhone 4S com quatro meses de uso, além de fotos e músicas.
O gerente comercial Fabio Luis Rosa, de 36 anos, também não dirige sem a companhia de um líquido. “Sempre compro água, suco, refrigerante ou energético voltando para casa do trabalho. É uma maneira de tornar o trajeto de uma hora um pouco menos estressante”, diz. Ele nunca se envolveu em acidentes, mas também já teve prejuízos. Em uma viagem para Belo Horizonte (MG) com a mulher e um casal de amigos, todos consumiram muita bebida. “Colocávamos as latas de refrigerante e garrafas no chão, e, depois, passamos para um saco de lixo. Meu amigo, que estava no banco do passageiro e já tinha bebido muita cerveja, misturou as latas com meus CDs e DVDs e acabou jogando tudo fora”, conta, reforçando que eram 20 no total.
Para a gerente de marketing Marcella Puglia, 38 anos, consumir bebida no carro é uma saída quando há várias tarefas programadas no mesmo dia. “Normalmente faço isso quando tenho reunião na escola das minhas filhas ou compromissos do trabalho e tenho pouco tempo para almoçar. Como meu carro é automático e tenho local para copo e garrafa, é tranquilo”, diz.
Para Dirceu Alves Rodrigues Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet), o fato de a maioria dos veículos terem porta-copos reforça a ideia de que o hábito é inofensivo, o que para o especialista não é verdade: “Se a bebida for consumida em copo ou garrafa, o movimento de inclinar a cabeça para trás, com o objeto na frente do rosto, faz com que o motorista perca a visão 360 graus, fundamental para uma condução segura”.
Pode parecer pouco tempo, mas três a quatro segundos com o carro a 100 km/h são suficientes para que o veículo percorra até 120 metros sem a atenção do condutor. “E falta de atenção é a quinta causa de acidentes de trânsito no mundo”, afirma Júnior. Com bebidas quentes é ainda mais arriscado: “Se o líquido derramar na pele, o motorista pode se assustar e ter uma reação imprevisível”.
Para quem ainda não se convenceu de que não vale a pena o hábito do motorista beber – qualquer liquido – com o carro em movimento, mais um motivo para pensar: dirigir sem uma das mãos no volante é infração média de trânsito punida com multa de R$ 85,13 e quatro pontos na habilitação. As exceções são quando é preciso trocar marcha, acionar equipamentos e acessórios ou fazer sinais regulamentares com o braço.
Fonte: Auto Esporte