Obviamente há variantes importantes no intricado atual cenário brasileiro que podem levar as tendências  do trânsito para a direção oposta, mas prefiro ficar com as positivas.

Depois de vários anos de aumento do número das fatalidades no trânsito brasileiro, 2014 mostrou uma leve queda que possivelmente vá se confirmar em tendência quando os dados de 2015 forem publicados pelo Datasus. Os números da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre os acidentes nas rodovias federais indicam a direção da redução, muito em razão do trabalho da própria PRF que tem se esforçado na otimização dos seus limitados recursos para melhorar a fiscalização ao longo das rodovias federais.

O que me faz acreditar que este ano possa ser melhor do ponto de vista de diminuição das fatalidades no trânsito é a própria crise econômica em si que fará com que brasileiros se desloquem menos e, consequentemente se exponham menos aos riscos do trânsito e de acidentes. Com menos dinheiro no bolso, é natural esperar que as pessoas deixem mais seus carros em casa e se utilizem de outros modais para deslocamentos. Isto pode provocar também redução no número e no tamanho dos congestionamentos (lentidão, no dizer das autoridades de trânsito) nas nossas maiores cidades. Muitos dirão que “o trânsito melhorou” e não será surpresa se alguns governantes se aproveitarem do fato para “mostrar resultados”. Seja como for, possivelmente estaremos diante de uma oportunidade ótima para desencadear um bom plano de recuperação da segurança no trânsito no País que, diga-se de passagem, já passou da hora.

Afinal, estamos mal na fotografia mundial da acidentalidade do trânsito, mostrada com todas as cores na reunião da ONU em Brasília em novembro passado. Apesar do peso econômico do País no contexto internacional, continuamos numa desconfortável posição no ranking dos países mais violentos no trânsito, com taxa superior a 20 mortes por grupo de 100 mil habitantes enquanto nações do pelotão de frente têm menos de 5.

A favor deste sonhado e necessário movimento pela retomada da segurança há um outro fator importante: nossa sociedade está mais atenta ao caos do trânsito e começa a se impacientar por medidas corretivas. Como todos sabemos, quando a sociedade se mobiliza e exige, o Governo reage… e os resultados aparecem.

Que tal, então, tirar proveitodo mau momento político-sócio-econômico do País e aproveitar para iniciar um amplo e duradouro plano de ação para melhorar de maneira sólida e permanente a segurança no trânsito brasileiro? Este passa a ser o jogo do ganha-ganha, onde certamente todos ganharão num infeliz momento em que a sensação generalizada é de que todos estamos perdendo.

Diante da imobilização em que se encontra o Governo e da vacilação das lideranças, cabe a cada um dos brasileiros fazer o que for possível no seu universo de ação para fazer sua parte. Parece difícil salvar o Brasil do vexame de não cumprir minimamente os objetivos da Década Mundial de Ações de Trânsito mas, quem sabe podemos salvar as aparências com alguma reação sustentável e de longo prazo.

J. Pedro Corrêa, Consultor do Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST)