As principais causas de acidentes nas rodovias são o sono (42%) e a fadiga (18%). Os motoristas comprometem sua saúde, alimentam-se mal, dormem pouco e em locais inadequados, trabalham exaustivamente, fazem uso de álcool, tabaco, medicamentos e drogas. A vida sedentária somada a todos esses fatores faz com que os motoristas brasileiros desenvolvam doenças que se manifestam no físico (problemas cardiovasculares, lesões por esforço repetitivo, perda de audição, etc) e no psicológico (apreensão constante diante de ameaças iminentes como assaltos, agressões, sequestros, acidentes).Isso sem falar no estresse de entregar a carga no prazo estabelecido, passar longos períodos longe da família e das atividades sociais.
Apesar de saberem dos fatores de risco, os motoristas profissionais resistem em mudar hábitos, consultar médicos e dificilmente realizam exames periódicos para acompanhar a saúde, devido ao fato de estarem sempre em trânsito. “Isso faz com que as doenças se tornem crônicas, evolutivas e incapacitantes”, destaca Dr. Dirceu Rodrigues Alves, diretor de comunicação e chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet.
Principais problemas
Os motoristas profissionais brasileiros têm baixa qualidade de vida. Passam dias na cabine, local em que dirigem horas a fio expostos a vibrações no corpo inteiro, ruído uniforme e contínuo, além do movimento pendular do tronco e da cabeça. Essa rotina diária favorece o aparecimento de vários problemas de saúde. Segundo a Abramet, os mais comuns são zumbidos nos ouvidos, perda auditiva, surdez, conjuntivite química, catarata, câncer de pele, doenças tropicais e infectocontagiosas, doenças osteoarticulares como lombalgia, hérnia de disco, entre outras.
O repouso também é subestimado. A maioria não dorme na penumbra, num ambiente silencioso, que contribua para um sono contínuo, profundo e reparador. O sono do motorista normalmente não traz relaxamento, recuperação e regeneração do organismo, causando a exaustão física”, afirma Dirceu.
Para aliviar a exaustão e prosseguir trabalhando, infelizmente muitos recorrem a medicamentos, estimulantes, álcool e drogas, que interferem perigosamente no ato de dirigir. O tempo de reação aumenta, fazendo com que o motorista demore mais para frear ou mudar de direção. Além disso, há mudança de comportamento do motorista, que se torna mais agressivo, eufórico e negligente.
A alimentação precária, rica em frituras, gorduras e condimentos é também nociva ao organismo e contribui para a direção insegura. O grande volume ingerido e os alimentos pesados causam lentidão no processo digestivo, que se reflete em sonolência. É uma reação fisiológica involuntária que pode levar o motorista a cochilar ao volante colocando sua vida e a de terceiros em risco.
Prevenção é o caminho
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o acidente como uma doença real que pode ser prevenida. A prevenção passa necessariamente por uma mudança na rotina dos motoristas profissionais para que eles realmente possam ter atenção, concentração, percepção de risco e raciocínio rápido e assim desenvolver uma direção mais segura. Um dos primeiros passos da mudança deve ser a correção postural, a inclusão de atividade física regular e jornada de trabalho adequada.
O motorista também precisa modificar seus hábitos alimentares. Fazer refeições mais leves, ricas em frutas, legumes, verduras, fibras, carboidratos e ingerir bastante líquido ao longo do dia para evitar a desidratação. Para acompanhar sua saúde, é fundamental consultar o médico, que irá solicitar exames clínicos e fazer um levantamento do histórico do paciente. Segundo a Abramet, os principais exames de rotina que podem ser solicitados são: bioquímica do sangue, teste ergométrico, hemograma, sorologia, urina, audiometria, acuidade visual, raio-x do tórax, entre outros. “Estes exames são chamados de periódicos e devem ser feitos anualmente. Mas dependendo dos riscos que o trabalhador está exposto, esse tempo poderá ser mais curto”, informa Dr. Dirceu.
Com relação aos exercícios físicos, o motorista pode praticar atividades simples, como uma caminhada ao redor do veículo ou em espaços maiores e seguros, acompanhado de alongamento. O ideal é fazer isso antes de começar a dirigir, durante as paradas e no final do expediente. “Estes exercícios movimentam os músculos, tendões, articulações e melhoram a oxigenação dos tecidos e do cérebro”, explica Dr. Dirceu.
Outra atitude preventiva importante é evitar o consumo de medicamentos, álcool e drogas, pois eles são nocivos à direção veicular. Dr. Dirceu alerta que todos levam à dependência, pois atuam no sistema nervoso central produzindo processo degenerativo. “O álcool ainda é capaz de produzir degeneração do fígado, começando por uma esteatose (engorduramento), que pode evoluir para uma cirrose (insuficiência hepática)”.
Fazer a prevenção é muito mais barato e mais eficaz na redução do número de mortos e feridos. É preciso que as empresas, a sociedade, e o próprio motorista se valorizemais. Não basta investir em veículos novos com alta tecnologia. É preciso que todos se conscientizemque a manutenção da saúde deste profissional é essencial para garantir a segurança de todos.